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Foto do escritorCristina Banaskiwitz

Designer: como será o fim da vida da embalagem que você está criando?


Nós da indústria nos perguntamos diariamente como podemos contribuir para auxiliar o consumidor, e as marcas de varejo, a serem mais eficientes na reciclagem das embalagens disponíveis nas gôndolas. Afinal, o uso de um produto pode ser imediato – mas seu invólucro arrisca permanecer décadas ou até séculos na natureza e provocar consequências desastrosas, o que, no meu ponto de vista, não faz sentido.

É por isso que, mais do que nunca, toda a cadeia produtiva de embalagens precisa estar focada em algo que vai muito além da lucratividade: trata-se da gestão do fim da vida de um produto! E uma ferramenta altamente positiva para alcançar esse objetivo é o design for recycling (design para reciclagem) ou ecodesign. Trata-se, literalmente, de pensarmos além da caixa.

Os números comprovam a busca por produtos sustentáveis: no Brasil, a preferência mais do que dobrou entre abril de 2021 e março de 2022, saltando 123%, segundo dados do Mercado Livre sobre compras on-line. O setor de produtos sustentáveis engloba 4,3 milhões de pessoas da Argentina, Chile, Colômbia, México, Uruguai e Brasil, sendo que os brasileiros representam 40% dessa fatia, que adquiriram 7,3 milhões de produtos com impacto positivo ao meio ambiente.


O que o design para reciclagem deve considerar?

O design associado a embalagens sustentáveis leva em conta desde a proteção e durabilidade na gôndola até o impacto que o produto trará à humanidade ao terminar sua trajetória. Qual o custo para o planeta se ele for projetado com apenas um material? E se for composto por muitos, o que exigirá diversas técnicas de separação e reciclagem?

Essas questões devem ser consideradas desde a concepção da embalagem. Ela deve ser pensada e desenhada para efetivamente ser reciclada, e de maneira economicamente viável. No entanto, não é isso que encontramos no cotidiano das pranchetas. O que vemos é pouco conhecimento sobre tipos de matérias-primas disponíveis, e, principalmente, nenhuma consideração sobre a linha de produção e envase do produto. Sempre digo aos designers: por favor, proponham soluções racionais, pois ninguém irá modificar sua linha de produção para viabilizar uma embalagem!


Que tal começarmos com micrometas?

Um ponto delicado deve ser considerado: num primeiro momento, pode ser que seja impossível eliminar um material fóssil do projeto. Mas isso não é o fim! Que tal, então, pensar na sua redução gradativa? Não poderemos “virar a chave” das embalagens de todo o planeta automaticamente, mas é preciso começar por algum lugar, agir conscientemente e definir micrometas alcançáveis.

Esse é o caso, por exemplo, das embalagens que protegem líquidos e pastosos. Sabemos que um produto com essas características precisa de barreiras protetoras contra luz, oxigênio e líquidos, e então a aplicação de polietileno se torna necessária. O problema é que essa solução dificulta, mais tarde, a reciclagem. Então, uma alternativa é projetar o corpo da embalagem em papel, que é biodegradável, reciclável e traz uma vantagem competitiva: tem melhor visibilidade nas gôndolas das lojas e supermercados.


Consumidor consciente

Faço ainda um apelo aos designers: esqueçamos a utilização de recursos como verniz UV, laminações a plástico, polietileno e efeitos metalizados. Eles, na realidade, retiram o argumento da reciclagem, comprometem o aproveitamento da fibra e, até mesmo, o inviabilizam. Mesmo um papelcartão com menos químicos ou produzido com fontes renováveis, se receber muitas camadas de tinta e acabamentos terá difícil reciclabilidade, fora o aumento do tempo de reciclagem.

Vale lembrar que o uso do papelcartão e acabamentos sustentáveis na composição das embalagens trazem um aspecto rústico ao material. E é justamente essa aparência que provoca um impacto visual diferenciado e transmite concretamente a ideia de sustentabilidade. Por isso, o design for recycling fortalece o produto e, vinculado a outras estratégias que visem transmitir ao público já na embalagem a responsabilidade socioambiental da marca, se torna uma tacada de mestre.

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